O sindicalismo docente praticado nas universidades federais no Estado do Ceará (CE)/Brasil encontrou suas origens a partir da segunda metade da década de 1970. Tratava-se, então, de um movimento associativo local engajado num projeto nacionalizado de invenção do sindicalismo docente na Educação Superior pública do país, até ali inexistente. Esse foi o contexto em que se deu, em 1980, a criação da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará (Adufc), uma das organizações membro-fundadoras da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), criada em 1981. Cerca de quatro décadas após, no período em que esta tese foi desenvolvida (2014-2019), encontramos esse universo sindical internamente configurado por inconciliáveis disputas e concorrências político-ideológicas, objetivadas em uma diversificação organizacional lastreada em profunda cisão político-associativa. De um lado, o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (Adufc-Sindicato), vinculado à Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes-Federação)/Central Única dos Trabalhadores (CUT). De outro, o Coletivo Graúna e o Sindicato dos Docentes da Universidade Federal da Integração Latino-americana – Seção Sindical (Sindunilab), vinculados ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (AndesSN)/Central Sindical e Popular – Coordenação Nacional de Lutas (CSP Conlutas)/Intersindicais. Compreender-se-ia suficientemente tal trajetória organizativa sindical interpretando-a como um fenômeno contingente? Segundo o proposto nesta tese, não. O motor e direção de tal trajetória organizativa encontra-se, antes de mais nada, na confluência dos efeitos tanto da ambiguidade ideológico-política típica à natureza (intermediária) de classe de sua base social – premida entre o corporativismo e a luta conjuntural (SAES, 1984; RIDENTI, 1995) – como da ação da Estrutura Sindical de Estado – promotora, por meio do sindicato oficial, da desorganização política das classes trabalhadoras (POULANTZAS, 1977 [1968]; BOITO Jr., 1991). O fato de as correntes internas desse sindicalismo terem tomado rumos instituintes que, independente dos conteúdos discursivos das mútuas acusações, o conduziram à oficialização e fragmentação faz-se uma evidência-síntese desta interpretação, com força demonstrativa amplificada na expansão experimentada, pelo menos na Região Nordeste do país (NE), pela forma organizacional “sindicato oficial estadual”. Os três primeiros capítulos da tese, de intenção demonstrativa e natureza empírico-descritiva, põem o leitor diante de fatos e situações históricas que lhe possibilitem o reconhecimento dos modos como, ao longo dos três períodos de transição entre suas formas organizacionais (1. De movimento instituinte a Adufc, 2. De Adufc a Adufc-SS e 3. De Adufc-SS a Adufc-Sindicato/Sindunilab/Coletivo Graúna)) este sindicalismo, na medida que aprofundou sua oficialização, simultaneamente fragmentouse, debilitando-se conjunturalmente como instrumento político das classes trabalhadoras. O quarto e último capítulo, conclusivo, demonstra como a micropolitização das relações entre lideranças e organizações advindas de diferentes tradições das esquerdas nacionais, denegada em “ciência engajada”, vem nele impondo sistemicamente tal debilitação a despeito das vontades políticas historicamente declaradas por suas diferentes lideranças e organizações.